Guerra na Ucrânia entra em nova era com drones de alta precisão
Rússia aposta em drones conectados por fibra óptica e Ucrânia reage com explosivos de longo alcance. Guerra se torna um campo de testes
atualizado
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A guerra na Ucrânia deu novos sinais de escalada tecnológica nos últimos dias. Às vésperas da segunda rodada de negociações entre as delegações russas e ucranianas, em Istambul, na Turquia, o governo ucraniano lançou a maior ofensiva da guerra contra a Rússia. Entretanto, o que chamou a atenção foi a arma utilizada — um drone de guerra com um custo abaixo de R$ 3 mil reais. Seriam os drones os novos protagonistas do conflito europeu?
O Kremlin reagiu à ofensiva na mesma moeda, porém, utilizando drones de fibra óptica, e é nesse ponto onde as diferenças começam a aparecer.
Novas guerras e novas tecnologias
Tais ofensivas não foram somente ataques militares, e podem ser interpretadas como uma nova corrida armamentista baseada em inovação tecnológica.
De um lado, a Rússia tem usado drones conectados por fibra óptica, praticamente imunes a bloqueios eletrônicos. Do outro, a Ucrânia investe em drones kamikazes de longo alcance, capazes de atingir alvos estratégicos no território russo. A guerra entrou, de vez, na era dos engenheiros e algoritmos.
Drones com cabo de fibra óptica
A principal novidade russa é o uso de drones conectados por um fino cabo de fibra óptica. Embora a ideia remeta a tecnologias antigas, ela surge como resposta direta ao uso intenso de bloqueadores de sinal e interferência eletrônica por parte da Ucrânia.
O drone é controlado por esse cabo — com até 5 km de extensão — e não depende de sinais de rádio ou GPS. Isso o torna praticamente imune às tentativas de derrubada por guerra eletrônica, um recurso cada vez mais usado no front ucraniano.
Na prática, esses drones têm sido usados principalmente para reconhecimento e designação de alvos. Imagens divulgadas mostram soldados ucranianos sendo localizados e atacados com precisão. Ao evitar a transmissão de sinais via satélite ou rádio, o equipamento se torna discreto e difícil de detectar.
O conceito lembra os primeiros drones da década de 2000, mas adaptado à realidade atual — com sensores mais precisos e custo mais baixo. E justamente por não serem sofisticados demais, esses drones se tornaram uma solução inteligente e eficaz no terreno.
Drones kamikazes
Anteriormente a resposta da Ucrânia era utilizando drones explosivos, chamados “kamikazes”. Os dispositivos percorriam centenas de quilômetros antes de atingirem seus alvos, geralmente infraestrutura crítica em território russo, como refinarias, bases militares e linhas de abastecimento.
Com design aerodinâmico e construídos muitas vezes com componentes comerciais, esses drones se tornaram uma alternativa barata e eficiente para atingir alvos de alto valor. Eles operam em silêncio, com baixa térmica, dificultando sua detecção por sistemas de defesa aérea.
A Ucrânia também conta com e tecnológico de países ocidentais, permitindo a integração de inteligência artificial aos sistemas de voo e navegação dos drones. A ideia é torná-los cada vez mais autônomos, capazes de identificar e escolher alvos mesmo em ambientes com interferência ou ausência de sinal.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, e o chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia, Vasyl Malyuk, deram um novo o na parte bélica do conflito, arquitetando a maior ofensiva da guerra com a operação teia de aranha.
Operação Teia de Aranha
No último domingo (1º/6), a Ucrânia lançou uma de suas ações militares mais ousadas e sofisticadas desde o início da guerra, utilizando drones camuflados para atacar cinco bases aéreas em território russo e destruir parte significativa da frota de bombardeiros estratégicos de Moscou.
Segundo autoridades ucranianas, 41 aeronaves foram danificadas ou completamente destruídas, incluindo modelos estratégicos como o Tu-95 e o Tu-22M3, usados para lançar mísseis de cruzeiro contra cidades e infraestrutura crítica da Ucrânia.
Foram utilizados drones FPV (First Person View) adaptados de modelos civis, que custam menos de R$ 3 mil cada.
Leves, silenciosos e difíceis de detectar por radares, esses drones foram escondidos dentro de contêineres e transportados clandestinamente para o território russo — inclusive por cidadãos russos cooptados ou infiltrados.
Nova face da guerra moderna
O impacto desses armamentos vai além da destruição física. Eles representam uma mudança estrutural na maneira como guerras são travadas. Em entrevista ao Metrópoles, o advogado internacionalista Julian Henrique Dias avalia essa transição bélica e tecnológica entre Rússia e Ucrânia.
“Eles barateiam o poder ofensivo, reduzem a necessidade de tropas no front e aumentam a capacidade de atacar com precisão. Estudos da RAND Corporation mostram que pequenos drones descentralizam o campo de batalha e minam defesas convencionais”, afirma Dias.
Sobre o equilíbrio atual da guerra tecnológica, ele pondera:
“A Rússia tem recursos industriais e guerra eletrônica consolidada, mas a Ucrânia, com apoio ocidental, mostrou flexibilidade e criatividade na integração de tecnologias ao combate. A Ucrânia se sobressaiu na adaptação ágil de tecnologias civis ao campo de batalha, colaborando para uma nova era da artilharia em conflitos desta natureza. É um diferencial assimétrico.”
Esse modelo de guerra, baseado em inovação barata, inteligência artificial e descentralização operacional, deve influenciar o comportamento de Estados e grupos armados em outros contextos. A batalha travada no leste europeu parece redefinir o que significa lutar ou vencer no século 21.