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Mais um corpo negro tombado em nome de uma operação policial que diz combater o crime, mas que, no fim das contas, criminaliza a favela. O Bope entrou com força. Segundo a versão oficial, estava em busca de criminosos fortemente armados. Mas a pergunta que não se cala é: como se justifica o uso de força letal contra uma festa comunitária, repleta de famílias, idosos e adolescentes? Qual a racionalidade de um Estado que aponta o fuzil para o arraial? A resposta não está nos autos do inquérito, mas na história do Brasil. A segurança pública, como é estruturada, não foi feita para proteger todos. Foi pensada, desde sempre, para conter alguns — e esses “alguns” têm cor, têm CEP, têm uma história de marginalização que começa com a escravidão e nunca foi devidamente superada. A polícia brasileira nasceu como aparato de repressão colonial. Seu DNA não é a prevenção, mas o controle. O inimigo, antes o quilombo, hoje é a favela. Antes era o escravizado que ousava fugir; agora, é o jovem negro que ousa viver. Leia também Rodrigo França Miguel não caiu. Miguel foi deixado cair. E isso muda tudo Rodrigo França João Pedro foi morto dentro de casa há 5 anos e ainda não teve justiça Rodrigo França A morte de Mbaye pela PMESP mostra que a escravidão só foi redesenhada O que aconteceu em Santo Amaro é mais do que um erro operacional. É um projeto. Um projeto que autoriza a violência sempre que se trata de pessoas negras, territórios pobres e expressões culturais não institucionalizadas. A festa junina, nesse contexto, não é só um evento — é um ato de afirmação. É o povo dizendo que existe, que dança, que cria, que resiste. E é justamente isso que incomoda: a favela celebrando sua humanidade. Sob uma lente antropológica, essa invasão não é apenas uma entrada armada: é um ataque simbólico à identidade coletiva. A quadrilha, a música, os enfeites, tudo isso compõe um universo que reafirma a dignidade de um povo. 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No Rio de Janeiro, Herus foi alvo, não exceção

Herus Guimarães Mendes, de 24 anos, foi atingido por um tiro durante uma ação do Bope em uma festa junina no Rio de Janeiro

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Era noite de festa. No morro de Santo Amaro, a uma quadra do bairro do Catete, no Rio de Janeiro, o céu ganhava as cores das bandeirinhas e a terra vibrava com os os da quadrilha. Era junho, tempo de milho verde, fogueira e zabumba. Crianças brincavam de pular fogueira enquanto adultos dançavam sob o som de sanfona, entre sorrisos e abraços. A comunidade se organizava para celebrar sua cultura, sua resistência, sua vida.

Mas a alegria durou pouco. Naquele sábado, o que se ouviu não foi o estouro de fogos, mas o estampido seco de fuzis. “Era bala para todo lado. Só deu tempo de cair no chão”, relatou Cristiano Pereira de Santana, presidente da quadrilha Balão Dourado. Em segundos, o São João virou cena de guerra. Pessoas correndo, se jogando ao chão, protegendo crianças, tentando escapar. Cinco ficaram feridas. Herus Guimarães Mendes, de 24 anos, foi atingido e não resistiu. Mais um corpo negro tombado em nome de uma operação policial que diz combater o crime, mas que, no fim das contas, criminaliza a favela.

O Bope entrou com força. Segundo a versão oficial, estava em busca de criminosos fortemente armados. Mas a pergunta que não se cala é: como se justifica o uso de força letal contra uma festa comunitária, repleta de famílias, idosos e adolescentes? Qual a racionalidade de um Estado que aponta o fuzil para o arraial?

A resposta não está nos autos do inquérito, mas na história do Brasil. A segurança pública, como é estruturada, não foi feita para proteger todos. Foi pensada, desde sempre, para conter alguns — e esses “alguns” têm cor, têm CEP, têm uma história de marginalização que começa com a escravidão e nunca foi devidamente superada. A polícia brasileira nasceu como aparato de repressão colonial. Seu DNA não é a prevenção, mas o controle. O inimigo, antes o quilombo, hoje é a favela. Antes era o escravizado que ousava fugir; agora, é o jovem negro que ousa viver.

O que aconteceu em Santo Amaro é mais do que um erro operacional. É um projeto. Um projeto que autoriza a violência sempre que se trata de pessoas negras, territórios pobres e expressões culturais não institucionalizadas. A festa junina, nesse contexto, não é só um evento — é um ato de afirmação. É o povo dizendo que existe, que dança, que cria, que resiste. E é justamente isso que incomoda: a favela celebrando sua humanidade.

Sob uma lente antropológica, essa invasão não é apenas uma entrada armada: é um ataque simbólico à identidade coletiva. A quadrilha, a música, os enfeites, tudo isso compõe um universo que reafirma a dignidade de um povo. E é esse universo que foi rompido com a violência do Estado. A bala não atinge só a pele — ela fere a memória, a cultura, a possibilidade de futuro. É evidente a seletividade dessa violência. A poucos metros dali, em áreas de classe média, festas juninas ocorriam sem a menor perturbação. Não havia helicópteros, não havia fuzis, não havia agentes de guerra. O crime, quando tem endereço nobre, é tratado com outra gramática. A polícia sabe disso. E o Estado também.

A exibição do poder armado do Estado em territórios vulnerabilizados não é um desvio — é uma prática legitimada por séculos de racismo. Como diria Fanon, a violência colonial é tão profunda que chega a ser banalizada. E o mais grave: ainda há quem se surpreenda com a brutalidade. Mas, para quem vive ali, isso não é exceção. É cotidiano. É rotina. É a eterna sensação de que qualquer movimento pode ser o último.

O governador exonerou comandantes, afastou 12 agentes, prometeu investigações. Mas há muito a ser feito além do gesto político. É preciso mudar a lógica. Segurança pública não é operação bélica, é projeto de cuidado, de inteligência. É presença do Estado com escola, saúde, cultura e dignidade. É reconhecer que a favela tem direito à alegria sem ser interrompida pela sirene.

Herus Guimarães Mendes era office-boy, deixou um filho de 2 anos. Tinha 24 anos. Foi ao arraial para dançar. Morreu baleado. Emanuel da Silva Félix, de 16 anos, levou um tiro, mas sobreviveu. O Brasil precisa se perguntar: quantos jovens negros ainda precisam morrer para que se entenda que o verdadeiro inimigo não está na festa, mas na estrutura que autoriza a matança?

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